Sou fã de Carlos Drummond. Junto com Clarice Lispector forma a dupla de autores da literatura brasileira que mais me impressiona. Toca fundo questões existenciais, sociais, sexuais, enfim, das mais cotidianas àquelas implicadas com o próprio existir. Num de seus poemas, Drummond fala dos "Ombros que suportam o mundo". Os dos jogadores tricolores carregam consigo um peso inimaginável, pois, nos últimos 8 anos, essa é, sem dúvida, a pior fase do Leão em termos de campeonato brasileiro e, por exemplo, já não sei mais o que escrever num espaço como esse. A desesperança vem tomando conta de mim. Não por um pessimismo infundando, mas, sobretudo, pela falta de atitude da diretoria, que, de mãos atadas e sem perspectivas financeiras, está levando lentamente o time para o buraco negro da série C. Para expressar meu momento de desesperança, posto aqui o poema "Os ombros suportam o mundo", porque, neste momento, não há nada mais fiel ao que eu sinto:
"Os ombros suportam o mundo"
(Carlos Drummond de Andrade)
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
"Os ombros suportam o mundo"
(Carlos Drummond de Andrade)
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
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